Trump versus Putin, ou Pôquer versus Xadrez
A ação de Donald Trump e seus aliados neste final de semana corporificou um perfeito exemplo de comportamentos culturais distintos, em que um atua com base na estratégia de jogador de pôquer e outro reflete e age com base nas categorias do xadrez. São formas distintas de refletir, de agir, mas também geram resultados bem diferentes.
Os blefes do norte-americano tiveram de ser postos à mesa, já que foi criada uma situação de difícil retorno, sob o risco de ele perder não apenas a credibilidade internacional, mas também de receber mais contraposição na política interna em seu país. Foram postos à mesa também porque os estadunidenses estão avaliando errado o fato de os russos terem tentado dissuadir a nova Tríplice Aliança, dizendo que haveria consequências caso atacassem. Acham os americanos que isso também é um blefe da Rússia, ao estilo de pôquer.
Tal interpretação pode ser um grande erro, pois russo não tem habilidade neste jogo de cartas e nem está habituado a jogá-lo, mas são bons enxadristas. Nesse sentido, a resposta não virá imediatamente. A Rússia não pode queimar as imagens de seu povo e de seu país antes do evento da Copa do Mundo, mesmo que tanto a Theresa May quanto Trump estejam fazendo de tudo para forçá-la a perder a paciência, com constantes sanções, perseguições, boicotes a eventos esportivos e ameaças contínuas, e podem acabar atirando no próprio pé, pois não será surpresa se terminarem fazendo do Estado russo a verdadeira vítima perante a sociedade internacional
Certamente a resposta virá, mas após esses “tríplices aliados” cometerem o erro que poderá ocorrer no futuro breve e depois de a Rússia ter aproveitado os momentos de promoção da sua imagem, algo que é prioritário para tentarem garantir alavancagens neste momento em que estão sob um cerco de sanções.
De início, tanto a Primeira-Ministra britânica quanto o Presidente estadunidense atuaram sem ter qualquer autorização de seus Parlamentos, menos ainda do Conselho de Segurança da ONU, por isso esta ação pode vir a ser tratada no futuro como um Ato de Guerra e não uma punição por um crime, pois, para ter esta última configuração, é necessário que haja consenso internacional e nem nos próprios países eles estão recebendo aprovação real.
As provas que afirmam ter não são apresentadas e tais declarações se baseiam no que Macron vem afirmando sobre uma suposta amostra que chegou até o governo francês e, ao que parece, já que não mostram nada, deve ter sido por inferência lógica que concluíram que o ataque só pode ter sido feito pelo regime de Assad.
É quase como dizer que se tem bico de pato e pé de pato, então é pato. Com um pouco mais de paciência e pesquisa poderiam descobrir que existe um animal chamado ornitorrinco, que também apresenta esses dois elementos, além de outros.
Se existem as provas, elas precisam ser apresentadas para legitimar o ato, pois, do contrário, todas as ações futuras para a extinção das armas químicas perderão credibilidade. Mesmo porque, o ano de 2003 já mostrou que acusações podem ser feitas para justificar atos violentos com interesses políticos próprios, com a história posterior provando que foi apenas uma jogada individual que levou o mundo a um erro irremediável, com as consequências que vemos até hoje.
Os ataques de sexta-feira foram uma representação de muitas coisas, basta que alguém queira interpretá-los a partir de seu próprio desejo. Segundo o governo francês afirmou, os objetivos das ofensivas foram precisos, e centros de pesquisa e produção de armas químicas foram atingidos. Curiosamente, a declaração francesa deveria mostrar as provas que chegaram até o governo da França sobre o culpa de Assad e, da mesma maneira, se sabem com tanta precisão que os ataques foram tão precisos, deveriam precisamente mostrar as fotos desta precisão alegada.
Talvez a precisão não seja no sentido de exatidão, mas de necessidade, e os líderes dos países atacantes tenham se atrapalhado nas conversas com idiomas distintos, e tenham desejado dizer que as provas ainda são necessárias. Como ninguém se entendeu, acabaram iniciando o ataque porque tinham se vestido a rigor para tal.
As supostas exigências que dizem terem sido feitas a Assad depois desse ataque, para dar novo contorno à crise síria, já haviam sido tratadas antes e é difícil que levem a algum lugar, mesmo porque, somente um incompetente aceitaria recuar das suas conquistas para acolher uma ameaça depois de um ato como este que dizem que foi tão preciso…, mas tão preciso… que até declararam com orgulho que tudo o que havia antes foi preservado, com ninguém sendo atingido, então, concluímos nós, que nada foi mudado.
Claro que, segundo apontam, os três centros responsáveis pelas armas químicas foram destruídos, mas tanto quanto as provas de que o ataque foi feito por Assad, também essas fotos da tal precisão dos mísseis devem estar em algum lugar, porém falta descobrirem onde foi que as deixaram.
Curiosamente, talvez tenham conseguido, precisamente, apenas aumentar o apoio interno a Assad. Se isso é uma conquista ou vitória, é necessário que pensemos em reinventar a lógica argumentativa.
Como a Rússia vai responder ainda é uma incógnita e teremos de esperar mais, pois o principal que deveria ter sido feito era apresentar ao mundo o culpado do crime e não o que se pode fazer para puni-lo, pois isso o mundo inteiro já sabe, do contrário, com esta ação sem provas, o que ficará transparente é apenas que a injustiça pode apresentar as mais variadas formas e este ataque pode ter sido apenas uma delas. No momento, é bem visível que não houve clamor por parte das sociedades dos “tríplices aliados”, pelo contrário, as críticas ao ato estão sendo bem claras.
Talvez seja interessante esses líderes aprenderem a jogar xadrez, se não for para tentar entender os russos, ao menos para começarem a pensar mais logicamente e menos irresponsavelmente, afinal, o pôquer ensina arriscar tudo num grito, imaginando que se lida com um tolo ou um covarde como adversário, e depois que se vejam as consequências. Bem… não é isso que se espera de líderes mundiais.